BRASIL, PAÍS IRMÃO...OU TALVEZ NÃO...
Sabia que tem Queluz no Brasil? Verdade, no Estado de S. Paulo, microrregião de Guaratinguetá...para tudo!!! Que raio de nome...pois é, primeira constatação: só no Brasil, é possível encontrar, lado a lado, povoações com nomes claramente lusitanos, como Alenquer, Santarém ou Óbidos, e Oriximiná, Juruti ou Itaituba, tudo no estado do Pará, na confluência do Amazonas com seus afluentes menores, o Tapajós, o Trombetas ou o Nhamundá...o português do Brasil, para desgosto e contrariedade dos puristas da língua, é o mais doce dos linguajares, de Timor ao Minho. O Brasil é, senão a primeira, certamente a mais bem sucedida experiência de miscigenação operada pelos portugueses...contrariamente a espanhóis, ingleses, franceses e holandeses da época da Expansão, o tuga misturava-se alegremente, derramando a sua semente por todo o globo, mas cultivando-a, permanecendo, integrando-se...Cabo Verde pode também ser apontado como bom exemplo de melting pot, nunca com a dimensão e plenitude da terra de Vera Cruz.
"A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara." No Brasil misturou-se tudo, o que deu, do ponto de vista genético, o caboclo mais feio e a Gisele Bundchen! Sucessivas vagas de imigração europeia, escravatura vinda de África, Japoneses que cruzaram o Pacifico, turcos da Anatólia, fundiram-se na perfeição, criando o mais complexo e diversificado ser humano que existe: o brasileiro! "é, meu chapa, eu sou um quarto índio, um quarto do golfo da Guiné e meio alemão e italiano!" O Brasil é o Mundo todo num só, e o que une aquela massa de 207 milhões de habitantes, é a língua, já não o português de Camões, mas uma coisa mais agridoce, cheia de indigenismos e africanismos...Como olha um zuca para um tuga, nos dias de hoje? Será que as ideias feitas, tipo padeiro, mulher de bigode e cheiro a bacalhau, ainda existem? A Lisboa dos turistas tem sempre alta percentagem de brasileiros, o que revela que a classe média cresceu no Brasil; no entanto, Zeca Baleiro dizia, não há muitos anos atrás, que, depois de receber um telegrama de amor, ficou com uma vontade danada de beijar o português da padaria...e nós, temos vontade de abraçar o brazuca do shopping? A crise económica recente parou o fluxo de novos emigrantes vindos do Atlântico Sul, mas parece-me que a torneira abriu de novo; no comboio, oiço muito acento paulista, pernambucano ou cearense...não se olha para um irmão distante com os mesmos olhos que para o outro que está por perto.
E o futebol samba, gente? Aprendi a gostar de futebol nos ecos de Pelé, Mané Garrincha ou Jairzinho; idolatrei o escrete de Espanha 82...como é possível não terem levado o caneco? O maior exportador de futebolistas do Mundo tem vários times de que sou fanzaço: no Rio o Vasco, em S. Paulo o Santos de Vila Belmiro, no Sul o Grémio de Porto Alegre...
Musicalmente, cresci a ouvir Brasil; na infância Bossa Nova, Tropicalistas, Chico, Caetano, Milton, Elis; depois o rock dos oitenta: Blitz, Kid Abelha, RPM, Ultraje a Rigor; hoje algum hip hop...e sempre samba, forró, sertaneja...como diz o meu Mestre, quem não amou Paula Toller na adolescência?
O Brasil é um caso sério de coisas boas, só ensombrado por dois flagelos de difícil combate: a criminalidade e a corrupção...quanto à primeira, há quem diga ser coisa de clima quente, cultura ancestral de um país forjado na luta pela sobrevivência; a segunda, certamente herança de culturas como a italiana, e porque não dizê-lo, a nossa...estes dois aspetos influenciam, e de que maneira, a evolução de uma sociedade que poderia ser a mais perfeita do planeta - paisagens idílicas, musica do melhor, comida de fusão planetária, futebol arte - mas que depois sofre com os índices de criminalidade nas grandes cidades, tem ainda um fosso grande entre pobres e a ínfima minoria de ricos, e tem políticos, do tipo dos nossos, mas em escala muito maior...para vocês não sei, para mim vai sempre ser o país irmão, uma cultura que eu amo e uma canção, que quando escuto, penso Brasil, e não na garota de Ipanema: " Olha, que coisa mais linda, tão cheia de graça..."
Comentários
Postar um comentário